terça-feira, 26 de julho de 2016

Comentando "A falácia da justiça social", de Carl Teichrib

Eu acredito na importância da compaixão, mas dizer que pura compaixão é o que a bíblia recomenda ao invés de justiça social é ver as coisas por uma ótica própria, adequada aos seus conceitos e preconceitos, como o faz Carl Teichrib no artigo intitulado "A falácia da justiça social". Além disso, não creio como ver compaixão desatrelada da justiça social, embora seja possível ver justiça social sem compaixão, quando aqueles que, seduzidos pelo brilhos de sua posição política ou privilegiada, acabam se esquecendo de cumprir tudo o que prometeram enquanto almejavam o poder, sendo este um dos poucos pontos em que concordo com Teichrib. 

O fato de a justiça social ser usada para justificar a violência de algumas revoluções, seja a ela a francesa ou a comunista não anula o fato de que há os que lutam pela justiça social sem o uso de violência e de forma pacífica, tais como Gandhi, Madre Teresa de Calcutá, Martin Luther King, Dorothy Day, bispo Desmond Tutu, Leon Tolstoi, os Quakers e alguns grupos menonitas que assim o fizeram ou fazem. 

Logo, Carl Teichrib, peca por tomar as más ações de algum grupo como um princípio aplicável a todos que lutam por justiça social. É a mesma coisa de rotular a fé como algo ruim, só porque algumas religiões ou religiosos agem mal em nome da fé. Mas eu não creio que Teichrib, enquanto menonita e cristão, pense na fé dessa forma.

Além disso, da mesma forma que Teichrib usa a bíblia para fundamentar suas opiniões contra a justiça social, encontramos na mesma bíblia muitos versos que defendem a mesma justiça renegada pelo autor. Em alguns dos versos bíblicos abaixo, está muito claro o nosso dever em erguer nossa voz em prol dos direitos dos pobres e dos indigentes.
“Bem-aventurado é aquele que considera o pobre; o Senhor o livrará no dia do mal.” Salmos 41:1.  
 Até quando julgareis injustamente, e aceitareis as pessoas dos ímpios? Fazei justiça ao pobre e ao órfão; justificai o aflito e o necessitado. Livrai o pobre e o necessitado; tirai-os das mãos dos ímpios. - Salmos 82:2-4. 
Ele espalhou, deu aos necessitados; a sua justiça permanece para sempre, e a sua força se exaltará em glória. - Salmos 112:9.
“O que oprime ao pobre insulta ao seu Criador; mas honra-o aquele que se compadece do necessitado.” Provérbios 14:31. 
 "Abre a tua boca em favor dos que não podem se defender; sê o protetor dos direitos de todos os desamparados! Ergue a tua voz e julga com justiça, defende o pobre e o necessitado” Provérbios 31: 8,9.
“Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desamparados? que vendo o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne? Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará. e a tua justiça irá adiante de ti; e a glória do Senhor será a tua retaguarda. Então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo, e o falar iniquamente; e se abrires a tua alma ao faminto, e fartares o aflito; então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio dia. O Senhor te guiará continuamente, e te fartará até em lugares áridos, e fortificará os teus ossos; serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca falham.” Isaías 58: 7-11. 
A bíblia também adverte contra negar direito aos necessitados:
"Pois sei que são muitas as vossas transgressões, e graves os vossos pecados; afligis o justo, aceitais peitas, e na porta negais o direito aos necessitados" Amós 5;12. 
Quando Provérbios 31: 8, 9 recomenda que sejamos o protetor de todos os desamparados, está claro no escopo e no contexto de nosso mundo cheio de injustiças quem são esses desamparados (pobres, não-brancos, minorias de sexo e gênero, etc.).

A justiça divina é fruto da compaixão e da misericórdia de Deus, ao contrário do que a tradição cristã tem ajudado a perpetuar através da imagem de um Deus vingativo e irado, pronto a mandar todo mundo para o inferno. Ao contrário, a justiça divina busca reparar, restituir, tal como Deus espera que nós o façamos com nossos semelhantes: 
 “Corra, porém, a justiça como as águas, e a retidão como o ribeiro perene.”Amós 5:24.
E Jesus é muito claro sobre quem ele e seu Pai considerarão como seus, ao dizer que quando assim fizermos aos outros conforme as suas necessidades, estamos de fato fazendo a ele:
Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver. - Mateus 25:35,36
Diga-se mais: só porque o termo justiça social tenha sido cunhado apenas no século XIX, conforme Teichrib, não quer dizer que a ideia já não tenha sido propagada, cultivada e divulgada antes. Os Quakers no século XVII já defendiam o fim da escravidão e já praticavam a igualdade entre homens e mulheres. Os cristãos do primeiro século, após o pentecostes, possuam uma prática, cunhadas na fé e no amor, que muita lembra o socialismo contemporâneo:

E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns. - Atos 4:32. 
Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos. E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha. - Atos 4:34,35
Eu não sou de esquerda radical, nem de extrema direita, defendo que a criação de riquezas gera riquezas, como defendem os liberais da direita. Acho, por outro lado, que é sempre hora de o Estado intervir, quando injustiças sociais são criadas e perpetuadas. A grande questão é que, quer esta riqueza seja gerenciada pelo Estado, quer por homens talentosos em criar fortunas no chamado livre mercado, temos um dever moral de promover a justiça entre os mais pobres e oprimidos. É tentador ansiar pelo poder político tanto quanto gerar grandes capitais, o risco é de, que aqueles que anseiam pelo poder como fizeram alguns socialistas/comunistas, ou dos que criam riquezas conforme os ideais do capitalismo, esqueçam exatamente do dever moral que temos com os mais fracos, com os esquecidos, com os pobres, com os marginais. Ser de esquerda ou de direita não anula o dever moral de se promover a justiça.

Leia AQUI o texto de Carl Teichrib e tire você mesmo suas conclusões.

Sergio de Moura

Um comentário:

  1. O brasileiro não conhece ainda a democracia e tão pouco o país é livre.
    Resumo: estamos sob o jugo de uma ditadura. O Governo não pode fazer uma reforma trabalhista ou empresarial, o trabalho não pode interferir no governo ou empresa, e a empresa não pode interferir no trabalho ou governo. Qual é o esquema Brasileiro? O esquema é deixar o não proprietário socialista e os ricos capitalistas e com justiça, manter o Status dominante. Trazem um pacote da ONU ou Estados Unidos (Nova Ordem Mundial) e mantem o cidadão sem defesa. República de Nicolae Ceausescu. Direita, Esquerda ou Centro? Quer dizer que o regime implantado em 1964/1968 – República Federativa do Brasil não garante a separação dos três poderes: Executivo, Judiciário e Legislativo, os quais se referem ao Governo, Empresa e Trabalho, este último sempre subordinado aos demais poderes. Se o governo ou empresa investe no trabalho, faltam recursos à empresa ou governo. Para equilibrar ou separar os três poderes: Isentar todas as empresas do pagamento de todos os tributos e tributar com base no consumo anual da Pessoa Física. Pagar aposentadoria, saúde, educação a uma Cooperativa do Trabalho Regional ou Internacional – particular. Quem paga tributo no Brasil? O consumidor e este deve ter opções de decisão.

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