quinta-feira, 28 de julho de 2016

Lidando com o medo e a culpa


Este é um vídeo do Quaker Speak, uma série de vídeos semanais transmitidas através do Youtube que reúne testemunhos dos Quakers acerca do significado de sua fé. No vídeo intitulado "Uma vida acima da culpa e do medo", Ross Hennesy, da Comunidade dos Amigos em Germantown, na Filadélfia (E.U.A.) afirma que a razão de ser Quaker é acreditar que há a possibilidade de uma vida além do medo e da culpa. Hennesy acredita que há um potencial pra promovermos nossa capacidade interna para a sabedoria e compaixão que muda nosso centro - centro que está no assento da direção de nossas vidas, agora e no futuro. Desta forma, isso começa a se manifestar em uma vida realmente criativa e corajosa. Houve um tempo na vida em que Hennesy queria golpear o medo em seu coração e percebeu que o que estava fazendo era tentar ignorar e sublimar essas emoções e sentimentos muito fortes que acabavam aflorando, mesmo que se esforçasse para que não os sentisse, tal como acontece a uma bola na piscina, que não consegue se manter no fundo, ainda que à força. Então percebeu que, através da reverência/adoração, ele poderia convidar seu medo e sua culpa para conversarem sem que eles o controlassem, sem determinarem o modo como se comportava e agia e eles começaram a diminuir. E enquanto aquelas paixões diminuíam, o que começou a descobrir foi a capacidade de ter compaixão ou empatia ou de co-sofrimento que está latente lá dentro.  E assim, os encontros para reverência ou adoração, enquanto se tem esta brasa ardente dentro de si, faz com com que você a sopre e ela se torne cada vez mais brilhante. É por isso que João 4:18 diz que o perfeito amor lança fora o medo, lembra Hennesy. O oposto do amor não é o ódio, mas  o medo. Falando sobre a disciplina dos encontros de adoração/reverência silenciosa,  afirma que participar dos encontros só faz sentido em um contexto onde alguém tenha certa disciplina ao longo da semana, onde se permita que aqueles medos, aqueles deveres, aquelas  necessidades, aquelas dores causadas pela culpa e também por nossos críticos interiores, possam aflorar e serem envolvido pela luz de tal forma que percam sua autoridade (tradução livre). 

terça-feira, 26 de julho de 2016

Comentando "A falácia da justiça social", de Carl Teichrib

Eu acredito na importância da compaixão, mas dizer que pura compaixão é o que a bíblia recomenda ao invés de justiça social é ver as coisas por uma ótica própria, adequada aos seus conceitos e preconceitos, como o faz Carl Teichrib no artigo intitulado "A falácia da justiça social". Além disso, não creio como ver compaixão desatrelada da justiça social, embora seja possível ver justiça social sem compaixão, quando aqueles que, seduzidos pelo brilhos de sua posição política ou privilegiada, acabam se esquecendo de cumprir tudo o que prometeram enquanto almejavam o poder, sendo este um dos poucos pontos em que concordo com Teichrib. 

O fato de a justiça social ser usada para justificar a violência de algumas revoluções, seja a ela a francesa ou a comunista não anula o fato de que há os que lutam pela justiça social sem o uso de violência e de forma pacífica, tais como Gandhi, Madre Teresa de Calcutá, Martin Luther King, Dorothy Day, bispo Desmond Tutu, Leon Tolstoi, os Quakers e alguns grupos menonitas que assim o fizeram ou fazem. 

Logo, Carl Teichrib, peca por tomar as más ações de algum grupo como um princípio aplicável a todos que lutam por justiça social. É a mesma coisa de rotular a fé como algo ruim, só porque algumas religiões ou religiosos agem mal em nome da fé. Mas eu não creio que Teichrib, enquanto menonita e cristão, pense na fé dessa forma.

Além disso, da mesma forma que Teichrib usa a bíblia para fundamentar suas opiniões contra a justiça social, encontramos na mesma bíblia muitos versos que defendem a mesma justiça renegada pelo autor. Em alguns dos versos bíblicos abaixo, está muito claro o nosso dever em erguer nossa voz em prol dos direitos dos pobres e dos indigentes.
“Bem-aventurado é aquele que considera o pobre; o Senhor o livrará no dia do mal.” Salmos 41:1.  
 Até quando julgareis injustamente, e aceitareis as pessoas dos ímpios? Fazei justiça ao pobre e ao órfão; justificai o aflito e o necessitado. Livrai o pobre e o necessitado; tirai-os das mãos dos ímpios. - Salmos 82:2-4. 
Ele espalhou, deu aos necessitados; a sua justiça permanece para sempre, e a sua força se exaltará em glória. - Salmos 112:9.
“O que oprime ao pobre insulta ao seu Criador; mas honra-o aquele que se compadece do necessitado.” Provérbios 14:31. 
 "Abre a tua boca em favor dos que não podem se defender; sê o protetor dos direitos de todos os desamparados! Ergue a tua voz e julga com justiça, defende o pobre e o necessitado” Provérbios 31: 8,9.
“Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desamparados? que vendo o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne? Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará. e a tua justiça irá adiante de ti; e a glória do Senhor será a tua retaguarda. Então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo, e o falar iniquamente; e se abrires a tua alma ao faminto, e fartares o aflito; então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio dia. O Senhor te guiará continuamente, e te fartará até em lugares áridos, e fortificará os teus ossos; serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca falham.” Isaías 58: 7-11. 
A bíblia também adverte contra negar direito aos necessitados:
"Pois sei que são muitas as vossas transgressões, e graves os vossos pecados; afligis o justo, aceitais peitas, e na porta negais o direito aos necessitados" Amós 5;12. 
Quando Provérbios 31: 8, 9 recomenda que sejamos o protetor de todos os desamparados, está claro no escopo e no contexto de nosso mundo cheio de injustiças quem são esses desamparados (pobres, não-brancos, minorias de sexo e gênero, etc.).

A justiça divina é fruto da compaixão e da misericórdia de Deus, ao contrário do que a tradição cristã tem ajudado a perpetuar através da imagem de um Deus vingativo e irado, pronto a mandar todo mundo para o inferno. Ao contrário, a justiça divina busca reparar, restituir, tal como Deus espera que nós o façamos com nossos semelhantes: 
 “Corra, porém, a justiça como as águas, e a retidão como o ribeiro perene.”Amós 5:24.
E Jesus é muito claro sobre quem ele e seu Pai considerarão como seus, ao dizer que quando assim fizermos aos outros conforme as suas necessidades, estamos de fato fazendo a ele:
Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver. - Mateus 25:35,36
Diga-se mais: só porque o termo justiça social tenha sido cunhado apenas no século XIX, conforme Teichrib, não quer dizer que a ideia já não tenha sido propagada, cultivada e divulgada antes. Os Quakers no século XVII já defendiam o fim da escravidão e já praticavam a igualdade entre homens e mulheres. Os cristãos do primeiro século, após o pentecostes, possuam uma prática, cunhadas na fé e no amor, que muita lembra o socialismo contemporâneo:

E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns. - Atos 4:32. 
Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos. E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha. - Atos 4:34,35
Eu não sou de esquerda radical, nem de extrema direita, defendo que a criação de riquezas gera riquezas, como defendem os liberais da direita. Acho, por outro lado, que é sempre hora de o Estado intervir, quando injustiças sociais são criadas e perpetuadas. A grande questão é que, quer esta riqueza seja gerenciada pelo Estado, quer por homens talentosos em criar fortunas no chamado livre mercado, temos um dever moral de promover a justiça entre os mais pobres e oprimidos. É tentador ansiar pelo poder político tanto quanto gerar grandes capitais, o risco é de, que aqueles que anseiam pelo poder como fizeram alguns socialistas/comunistas, ou dos que criam riquezas conforme os ideais do capitalismo, esqueçam exatamente do dever moral que temos com os mais fracos, com os esquecidos, com os pobres, com os marginais. Ser de esquerda ou de direita não anula o dever moral de se promover a justiça.

Leia AQUI o texto de Carl Teichrib e tire você mesmo suas conclusões.

Sergio de Moura

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Amando o feio

Só ama exclusivamente o belo quem é cego aos limites do amor. O belo é uma utopia do perfeito e nesta utopia não há espaço para meio termos, tons de cinzas nem para as assimetrias, rostos tortos, cardo e espinhos. O feio é narciso rejeitando sua imagem e semelhança no espelho, porque narciso é limitado e só ama o que é belo. O negro é feio. O asiático é feio. O gay é feio. Ser mulher é feio porque sempre se acreditou que o sexo feminino é frágil e como no belo só se ama a perfeição dos mais fortes, o frágil é feio. O gordo é feio. O deficiente é feio. Quem não tem o rosto ou o corpo com as simetrias clássicas do padrão grego da antiguidade, sinônimo de civilização, é feio. O índio é feio. O pobre é feio. O bárbaro é feio. O grande problema de se amar apenas o que é belo é a perpetuidade das injustiças e sem justiça social, nunca teremos um mundo melhor. Amar o feio é amar o seu próximo, a julgar que os que aqui foram citados representa a maioria no mundo. Jesus deixou muito claro em sua resposta quem era seu próximo quando um fariseu lhe fizera tal pergunta: era exatamente aquele a quem todo judeu evitava e desprezava: um samaritano. Os samaritanos eram feios porque eram mestiços, impuros, inferiores. Mas Jesus não fez concessões. A mulher adúltera a quem quiseram apedrejar era feia, mas Jesus mostrou um padrão superior à rigidez da lei: o amor. Deviam amar aquela mulher pecadora, suja, digna de morte, porque todos que a queriam apedrejar eram igualmente feios, sujos e pecadores perante Deus. Então, a não ser que você tenha renunciado à justiça redentora que vem de Deus e optado por um sistema de justiça pessoal, recomendo que pare de apontar o dedo para os outros e passe primeiro a cuidar de suas próprias feridas. Depois de tê-las saradas, não saia por aí achando-se o guardião da moral e da justiça divinas, ajude àqueles que estão feridos a curarem suas feridas também.

Sergio Winter

domingo, 17 de julho de 2016


Valores Quakers: simplicidade, paz, integridade, comunidade, igualdade

sábado, 16 de julho de 2016

Raízes Cristãs

No artigo em inglês de Craig Barnett sobre as raízes cristã dos Quakers, o autor explica a diferença entre os Amigos e outros cristãos e explica o quê do "cristianismo" é rejeitado entre os Amigos contemporâneos. Quando os Quakers negam sua ligação com o cristianismo, não negam a Cristo, seu espírito ou seu reino, mas sim o sistema que nega com suas atitudes e práticas o fato de que o "Reino de Deus" já está entre nós.

O artigo pode ser lido no blog Transition Quaker.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Culto Silencioso e Valores Quakers

Pego essa tradução do blog "Os Taboritas" e passo adiante:

Se você nunca participou de um culto não programado da Sociedade de Amigos (Quacres), sua primeira reunião pode surpreendê-lo.

Reunidos num culto para ouvir mais claramente a "voz mansa e delicada" (1 Reis 19:12, Almeida Revista e Corrigida), os Amigos durante o culto não programado da tradição quacre permanecem na mais completa expectativa. Assumem literalmente o conselho do Salmista: "Sabei que eu sou Deus!" (Salmo 46:10).  

Os Amigos se encontram num mesmo plano numa sala [por exemplo, na sala da casa de um dos amigos] sem adornos, pois em tais locais há menos distração que os atrapalhe ouvir a “voz mansa e delicada”. Não há nenhum púlpito em suas reuniões porque se auxiliam mutuamente. Os bancos ou cadeiras ficam frente a frente pois os Amigos são todos iguais diante de Deus. Orações, leituras, sermões, hinos, ou orquestrações musicais não são programadas previamente porque esperam que até mesmo a dinâmica do culto seja conduzida por Deus proporcionando orientação, direção e poder em suas vidas.  

Durante a adoração, uma mensagem pode vir a eles para reflexão pessoal, para compartilhar em outra ocasião, ou para ser transmitida de pé numa falação. Os amigos avaliam mensagens faladas vindas do coração e incitadas pelo Espírito, e também avaliam o silêncio compartilhado mutuamente. Após uma mensagem falada, retornam ao silêncio para se auto examinar à Luz daquela mensagem. O culto termina quando um Amigo, designado com antecedência, cumprimenta os que estão ao lado. Então todos se cumprimentam mutuamente. Nunca a mesma pessoa é designada para duas reuniões seguidas.  

Da mesma forma que seu estilo de adoração, a teologia quacre também difere das outras religiões. Pelo fato de que nenhum credo pode representar completamente toda a revelação, e por também poder limitar as percepções da verdade, os Amigos não instituem nenhum credo. Ao invés disso, escrevem questões (considerações) que ajudam na reflexão sobre suas convicções e ações; também promovem encontros anuais, que são organizados regionalmente por congregações locais que se reúnem mensalmente, e registram seus valores e experiência comuns em manuais intitulados: Fé e Prática.  

Sem credos, os Amigos se diversificaram em suas convicções sobre Deus. No entanto, a experimentação mútua da presença de Deus leva-os a perceber que há algo de Deus, ou algo de Divino, em todo mundo. Esta percepção é um ponto central no quakerismo. Isto é confirmado por testemunhos na Bíblia e a referência a Amigos é condicionada ao "estar em Cristo", à "Luz Interior", e à "Semente da Verdade". Na medida em que os Amigos tentam corresponder a essa Luz interior, surgem valores mútuos.  

Entre eles, os Amigos têm a vida como algo sagrado. Por reconhecerem que há algo de Deus em cada um, os Amigos tentam evitar o uso da violência. Acreditam que quando alguém fere outra pessoa, prejudica também a si mesmo e nega a presença de Deus em sua vida. Com a orientação de Deus, tentam, ao invés de ferir, achar soluções não violentas a conflitos e diferenças, e ajudar outros através do serviço, da promoção social, da justiça econômica, vivendo diariamente a bondade e o apoio mútuo enquanto expressão visível da presença de Deus em suas vidas.  

Semelhantemente, experimentar a presença Deus dentro de si conduz o Amigo à compreensão de que tal presença é universal. Qualquer um pode experimentar Deus em qualquer lugar, diretamente, sem intermediários. O quakerismo é simplesmente um modo de conhecer Deus, e outras autênticas expressões da presença de Deus também podem ser encontradas em outras religiões.  

Logo que os Amigos perceberam que tanto homens como mulheres experimentam esta presença, se tornaram o primeiro grupo religioso a reconhecer a igualdade entre mulheres e homens diante de Deus. Por conseguinte, desde o começo, em meados do século XVII, o homem e a mulher quacre vêm compartilhando a igualdade na obra dos Amigos. As escolas quakers educam tanto meninas como meninos.  

Pelo fato dos Amigos reconhecerem que há algo de Deus em cada um e em todo mundo, os Amigos consideram que qualquer um a qualquer hora pode expressar a direção de Deus. Então, as revelações, ou mensagens de Deus, são um processo contínuo. Os Amigos afirmam que Deus inspirou os escritos da Bíblia e outras literaturas sagradas e ainda inspira. Embora nem sempre sejamos receptivos, Deus continua revelando a Divina orientação e a imutável verdade para todos e para cada um de nós hoje, da mesma maneira que no passado.  

Para serem mais receptivos a revelação, os Amigos praticam a simplicidade e a integridade. Para os Amigos, a simplicidade coloca Deus em primeiro lugar na vida da pessoa. A simplicidade requer prioridades claras e freqüentemente inspira frugalidade e organização. A simplicidade persuade a pessoa a meramente afirmar, sem lisonjas, prolixidade ou emoções, evitando a extravagância e a parafernália. A simplicidade requer integridade, honestidade em todos os procedimentos, a expressão da verdade em todas as ocasiões, e consistência com os valores da pessoa. A simplicidade e a integridade têm muito em comum: da mesma maneira que a simplicidade evita truncar o ambiente da pessoa, a integridade evita complicar as relações da pessoa.  

A simplicidade e a integridade nos conduzem para mais perto da verdade, e a verdade é de tal importância para os Amigos que seu nome original, baseado em João 15:15, era "Sociedade Religiosa dos Amigos da Verdade". A experiência da plenitude da verdade viva inspirou George Fox, um dos fundadores, a recusar jurar em qualquer tribunal. Fox sustentava que quando alguém jura falar a verdade em determinada ocasião insinua que há outras ocasiões em que mente. Ele também seguiu a advertência bíblica contra o juramento (Mateus 5:34-37).  

Outra conseqüência da busca dos Amigos pela verdade é que as descobertas científicas não tendem a desafiar a base de sua fé. Como no método científico, a fé e a prática quacre confiam na experiência como guia. Chegamos à verdade experimentalmente. A procura pela verdade é mais importante para eles do que a manutenção das convicções, e dessa forma, tentam permanecer abertos a novas abordagens à verdade. A perspicácia de outras novas abordagens pode conduzir à verdade, os Amigos trazem revelações pessoais às suas comunidades para discernimento e "clareza".  

A procura dos Amigos pela verdade será futuramente realizada na medida em que os "caminhos vão se abrindo", pela mudança nas situações ou nas  circunstancias, de forma a permiti-los seguir na direção à qual Deus os está conduzindo. Conforme seguem em determinada direção, passos específicos são delineados, mesmo sem ser previamente conhecidos por eles, tornam-se paulatinamente aparentes. Quando o caminho não abrir, a condução correta da direção passa a ser delineada.  

Em sua procura conjunta pela verdade, os Amigos usam o processo quacre de tomada de decisão, a reverência (worshipful), um processo que busca preservar a unidade em todas as decisões que afetam suas comunidades. Para os Amigos, unidade não é normalmente unanimidade, um acordo sem dissensão. A unidade é mais freqüentemente um acordo que reconhece a dissensão, permanecer juntos apesar das diferenças e avançar adiante mantendo os valores comuns.  

Priorizando a preservação da unidade, um membro na reunião, designado como secretário (clerk), zela pelo "senso de união". Quando o secretário percebe que o grupo não chegou a um consenso, ele ou ela concede um minuto para que os Amigos concordem entre si ou modifiquem suas opiniões. Atingir a unidade às vezes significa, ocasionalmente, por uma questão de respeito à sabedoria da comunidade, que um ou mais membros podem divergir colocando-se "de pé e aparte".  

O postar-se "de pé e aparte"acontece quando a pessoa tolera uma decisão tomada pelo grupo. Embora não se sinta completamente confortável com ela, não vê nenhuma questão moral em seguir adiante. Por outro lado, a comunidade reconhece e escuta cuidadosamente a dissensão sincera, pois a condução divina pode ser direcionada através de qualquer um dos Amigos. Para eles, permanecer juntos apesar das diferenças é um aspecto importante da comunidade, além disso, percebem que quanto mais consideram as diferentes opiniões, mais se aproximam da verdade.  

Embora seja um elemento de fortalecimento mútuo, a diversidade quacre não é normalmente fácil. As diferentes opiniões e convicções individuais dos Amigos podem resultar em muitas reuniões. Embora os Amigos tenham suas raízes no Cristianismo, alguns Amigos individualmente não se denominam cristãos. Além disso, mesmo os Amigos que são cristãos podem ter definições discrepantes do Cristianismo. Temos Amigos unitários e trinitários, evangélicos e não evangélicos. Alguns Amigos assistem a outros serviços religiosos como também se encontram para o culto.  

Apesar da diversidade, os Amigos acreditam que podem viver conforme seus valores comuns. Quando agem assim tais valores se tornam seu testemunho para o mundo. O testemunho de amigos da paz, da igualdade, da simplicidade, da integridade, da verdade, da comunidade, e da diversidade, evoluíram com o passar do tempo, tornando-se expressões externas das tentativas dos Amigos de transformar idealismo em ação.  

Os Amigos avaliam e procuram ações que refletem seus ideais. Os Amigos esperam não apenas viver vidas divinamente inspiradas, como também viver vidas que, com poder e orientação divinos, podem alcançar a justiça social e a paz na terra.  

O fato dos Amigos não atingirem o ideal não significa abandonar o esforço por alcançá-lo. Consequentemente, em seus cultos e na labuta em suas vidas diárias, os Amigos tentam manifestar seus valores comuns:

A sacralidade da vida;

A convicção de que a presença de Deus em todos e em cada um pode ser experimentada universalmente;

A continuidade da revelação;

A simplicidade, a integridade, a comunidade e a diversidade são valores essenciais na procura pela verdade;

A busca pela verdade e pela unidade são metas tanto na adoração como na labuta do dia a dia;

Na medida em que os caminhos se abrem, o ideal torna-se atingível.

Estes valores, que possibilitam a realização dos Amigos, vão no sentido de que Deus está dentro de cada um e de todos.


O texto em inglês de "Adoração Silenciosa e Valores Quakers" (Silent Worship and Quaker Values) pode ser acessado em Quakerbooks.Org em http://www.fgcquaker.org/library/welcome/silentworship.html

O folheto original foi publicado por Sandy Spring Friends School, em Sandy Spring, Maryland.

Postado por Alvimar Bessa às 21:57

Marcadores: "culto silencioso quaker", "valores quakers"

quarta-feira, 13 de julho de 2016

A liberalidade dos Amigos, em Eugene, Oregon

Ao início de sua página na Internet, a Comunidade dos Amigos em Eugene, estado de Oregon, Estados Unidos, declara:

Como uma congregação aberta e afirmativa, o Encontro Mensal dos Amigos (Quakers) de Eugene celebra a diversidade racial, de gênero, de orientação sexual, de habilidades, de idade, de classes, de status marital, de opinião e de matriz religiosa. Confiamos nesta condução espiritual enquanto procuramos um novo entendimento da fé e damos as boas vindas a todos aqueles que queiram se juntar a nós nesta busca.
Este entendimento pode ser considerado como liberal ou progressista e reflete bem a diversidade de pensamento dos Quakers. O que percebemos é que os Quakers conseguem manter a diversidade (variedade na profissão de fé) na unidade (Todos são amigos, independentes de sua postura liberal ou conservadora, progressista ou ortodoxa).

Página dos Amigos em Eugene, Oregon.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Casamento Quaker


O vídeo mostra a cena de um casamento Quaker, baseada na simplicidade e dispensa de um sacerdote para oficiar a cerimônia. Isso se deve ao fato de da crença dos Amigos no sacerdócio de todos os santos, mediante Jesus Cristo, presente no Novo Testamento, ponto de fé fundamental que elimina as hierarquias religiosas e anuncia a igualdade de todos perante Deus.

Quakers: a fé esquecida em sua cidade de origem

Este artigo da BBC fala sobre a cidade de origem dos Quakers, ou cidade natal. É meu propósito traduzir este artigo em português assim que eu puder. Mas deixo o link abaixo para quem tem um certo domínio do inglês.

Quakers: The faith forgotten in its hometown

O pacifismo dos Quakers


Na faixa acima está escrito que os Quakers se opõem a qualquer tipo de guerra, um aspecto que me causa admiração. Este é o caráter pacifista dos Amigos. 

Trago abaixo um trecho do livro "Para compreender o ecumenismo", de Juan Bosch Navarro (1995, p.83), que diz:

O pacifismo dos quakers é tradicional, tendo assumido várias formas ao longo da história: total oposição à escravidão; fundação de hospitais para alienados; luta pela humanização das prisões; celebração de conferências em favor da paz; criação do American Friends Service Commitee, cujos voluntários, trabalharam  em heroico programas de ajuda a todos os contendentes, tanto nas duas guerras mundiais como na guerra civil espanhola e na do Vietnã; iniciativas para legalizar os objetores de consciência. Sem dúvida, eles ganharam a admiração das pessoas de boa vontade.

Talvez isso fosse uma lição que outras tradições cristãs pudessem reconhecer como ponto de alto enlevo para a sua fé, uma vez que muitas denominações fazem da questão de seus membros participarem de conflitos armados e bélicos como uma questão de consciência, ou seja, uma decisão individual de cada membro. Não estou aqui para julgar outras denominações nem seus membros, apenas destacando um aspecto que considero positivo na fé dos Amigos.




sábado, 9 de julho de 2016

Sim, me identifico com os Quakers



Este blog é sobre essa tradição espiritual de origem cristã protestante, que acredita na luz divina em nós, algo em que sempre acreditei e por qual nutro interesse e afeto.

Os Amigos, como os Quakers também são conhecidos (Amigos da Verdade. Amigos da Luz) não são muitos numerosos no mundo. Parte disso vem do fato de que um Quaker não está interessado em converter ninguém para a sua fé, ou convencer aos outros de que seu dogma é correto; em parte porque sequer possuem dogmas ou confissões de fé escritas, como as demais denominações cristãs. Para eles, a fé é algo dinâmico e não pode ficar presa e limitada a convenções religiosas. 

Se destacam na luta pela justiça e direitos humanos, pacifismo, igualdade entre homens e mulheres, luta pelo fim da escravidão nos séculos XVIII e XIX, filantropia e alguns grupos admitem a união entre parceiros do mesmo sexo.

Há Quakers de diversos matizes: evangélicos (nesse caso, se organizam como uma igreja evangélica, com hierarquia e liderança), conservadores, ortodoxos, liberais, progressistas, universalistas, agnósticos e ateus (nesse último caso, agnósticos e não-teístas que são filhos dessa tradição e que ainda acham importante a comunhão presente no fato de se reunirem em assembleias, encontros e reuniões de matiz espiritual).. O que a maioria partilha em comum é essa noção de que Deus se revelou em nós através de Jesus e seu Espírito, ou a presença da luz divina para aqueles que são guiados por esta luz.

Os Quakers não possuem hierarquia nem lideranças espirituais, pois acreditam no sacerdócio de todo crente, já que segundo o NT não há mais intermediadores entre Deus e o homem, após Jesus Cristo. Também seus cultos não são programados, quando a comunidade de fé opta por um culto silencioso, baseado no quietismo e na revelação da luz interior.

No Brasil, não se tem noticia de grupos de Quakers ou Juntas Anuais (Yearly Meetings) ou mensais (Monthly Meetings), como realizados na América do Norte, Europa e outras partes do mundo, a não ser tentativas isoladas de  pequenos grupos ou indivíduos em alguns estados brasileiros. Porém, nada impede que um indivíduo ou comunidade se identifique e pratique sua fé baseada nos princípios e valores dos Amigos.

Quão preciosa é, ó Deus, a tua benignidade! Os filhos dos homens se refugiam à sombra das tuas asas. Eles se fartarão da gordura da tua casa, e os farás beber da corrente das tuas delícias; pois em ti está o manancial da vida; na tua luz vemos a luz.
Salmos 36:7-9