segunda-feira, 25 de julho de 2016

Amando o feio

Só ama exclusivamente o belo quem é cego aos limites do amor. O belo é uma utopia do perfeito e nesta utopia não há espaço para meio termos, tons de cinzas nem para as assimetrias, rostos tortos, cardo e espinhos. O feio é narciso rejeitando sua imagem e semelhança no espelho, porque narciso é limitado e só ama o que é belo. O negro é feio. O asiático é feio. O gay é feio. Ser mulher é feio porque sempre se acreditou que o sexo feminino é frágil e como no belo só se ama a perfeição dos mais fortes, o frágil é feio. O gordo é feio. O deficiente é feio. Quem não tem o rosto ou o corpo com as simetrias clássicas do padrão grego da antiguidade, sinônimo de civilização, é feio. O índio é feio. O pobre é feio. O bárbaro é feio. O grande problema de se amar apenas o que é belo é a perpetuidade das injustiças e sem justiça social, nunca teremos um mundo melhor. Amar o feio é amar o seu próximo, a julgar que os que aqui foram citados representa a maioria no mundo. Jesus deixou muito claro em sua resposta quem era seu próximo quando um fariseu lhe fizera tal pergunta: era exatamente aquele a quem todo judeu evitava e desprezava: um samaritano. Os samaritanos eram feios porque eram mestiços, impuros, inferiores. Mas Jesus não fez concessões. A mulher adúltera a quem quiseram apedrejar era feia, mas Jesus mostrou um padrão superior à rigidez da lei: o amor. Deviam amar aquela mulher pecadora, suja, digna de morte, porque todos que a queriam apedrejar eram igualmente feios, sujos e pecadores perante Deus. Então, a não ser que você tenha renunciado à justiça redentora que vem de Deus e optado por um sistema de justiça pessoal, recomendo que pare de apontar o dedo para os outros e passe primeiro a cuidar de suas próprias feridas. Depois de tê-las saradas, não saia por aí achando-se o guardião da moral e da justiça divinas, ajude àqueles que estão feridos a curarem suas feridas também.

Sergio Winter

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